segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Não

Álvaro de Campos

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...

Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...

sábado, fevereiro 25, 2006

Mulher de idade atrás do balcão numa cidade pequena

Pearl Jam

Eu acho que reconheço o teu rosto
Provocante, familiar, mas ainda assim
não consigo situá-lo
Não consigo encontrar a chama de pensamento
para acender teu nome

Uma vida inteira se apossa de mim
Todas essas mudanças tomando lugar,
Eu queira poder ter visto o lugar
Mas ninguém jamais me levou
Corações e pensamentos, eles se esvaem
E desaparecem...

Eu juro que reconheço a tua respiração
Memórias como se fossem impressões digitais
estão lentamente aparecendo
De mim você não deve se lembrar, pois
Não estou como costumava ser
É difícil quando você fica atolado na areia
Eu mudei, mas não por completo,
A cidade pequena vaticinou meu destino.
Talvez seja isso o que ninguém quer ver

Eu sou quero gritar... Olá!
Meu Deus, há quanto tempo...
Nunca sonhei que você voltaria...
Mas aí está você, e aqui eu estou.
Corações e pensamentos, eles se esvaem
E desaparecem...

Corações e pensamentos, eles se esvaem
E desaparecem...
Corações e pensamentos
Desparecem...



Elderly Woman Behind The Counter in a Small Town

Pearl Jam

I seem to
recognize your face
Haunting, familiar, yet I can’t seem to place it
Cannot find the candle of thought to light your name
Lifetimes are catching up with me
All these changes taking place,
I wish I’d seen the place
But no one’s ever taken me
Hearts and thoughts they fade,
Fade away...

I swear I recognize your breath
Memories like
fingerprints are slowly raising
Me you wouldn’t recall, for
I’m not my former
It’s hard when you’re stuck upon the shelf
I changed by not changing at all,
small town predicts my fate
Perhaps that’s what no one wants to see
I just want to scream...
Hello...
My God it’s been so long,
Never dreamed you’d return
But now here you are, and here I am
Hearts
and thoughts they fade...
Away...

Hearts and thoughts they fade,
fade away...
Hearts and thoughts they fade...away...
Hearts and thoughts
they fade, fade away...
Hearts and thoughts they fade...

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Down in a hole

Alice in Chains

Enterre-me suavemente neste útero
Eu dou esta parte de mim para você
Cai uma chuva de areia e aqui eu sento
Segurando flores raras
Numa cova...
Florescendo...

Estou num buraco e não sei posso ser salvo
Veja meu coração, eu o decorei como um túmulo
Você não entende em quem eles pensam
que eu deveria ter me tornado
Olhe para mim agora, sou um homem
Que não se permitirá ser si mesmo

Dentro de um buraco,
Perdendo minha alma
Dentro de um buraco,
Perdendo o controle
Eu queria voar,
Mas minhas asas foram negadas

Estou num buraco e já colocaram todas
as pedras em seu lugar
Já tomei tanto Sol que minha língua
teve até o paladar queimado
Eu fui o culpado
De me chutar nos dentes
Eu não falarei mais
Do que sinto por dentro

Dentro de um buraco,
Perdendo minha alma
Dentro de um buraco,
Perdendo o controle
Eu queria voar
Mas minhas asas foram negadas

Enterre-me suavemente neste útero
Como eu queria estar dentro de você
Eu dou esta parte de mim para você
Como eu queria estar dentro de você
Cai uma chuva de areia e aqui eu sento
Segurando flores raras
Como eu queria estar dentro de você
Numa cova...
Florescendo...
Como eu queria estar dentro...

Dentro de um buraco,
Perdendo minha alma
Dentro de um buraco,
Sentindo-me tão pequeno
Dentro de um buraco,
Perdendo minha alma,
Dentro de um buraco,
Fora de controle
Eu queria voar
Mas minhas asas foram negadas



Down in a hole
Alice in Chains

Bury me softly in this womb
I give this part of me for you
Sand rains down and here I sit
Holding rare flowers
In a tomb...
in bloom…

Down in a hole and I don’t know if I can be saved
See my heart I decorate it like a grave
You don’t understand who they
Thought I was supposed to be
Look at me now I'm a man
Who won’t let himself be

Down in a hole,
losin’ my soul
Down in a hole,
losin’ control
I’d like to fly,
But my wings have been so denied

Down in a hole and they’ve put all
The stones in their place
I’ve eaten the sun so my tongue
Has been burned of the taste
I have been guilty
Of kicking myself in the teeth
I will speak no more
Of my feelings beneath

Down in a hole,
losin’ my soul
Down in a hole,
losin’ control
I’d like to fly
but my Wings have been so denied

Bury me softly in this womb
Oh, I want to be inside of you
I give this part of me for you
Oh, I want to be inside of you
Sand rains down and here I sit
Holding rare flowers
Oh, I want to be inside of you
In a tomb...
In bloom...
Oh, I want to be inside...

Down in a hole,
losin’ my soul
Down in a hole,
feelin’ so small
Down in a hole,
losin’ my soul
Down in a hole,
out of control
I’d like to fly
but my Wings have been so denied

sábado, fevereiro 18, 2006

Por siempre jamás

Para aproveitar minha deprê, e também para inaugurar a lista de poemas, segue abaixo a tradução para uma poesia do Pérez Bonalde.

Para todo sempre!
Juan Antonio Pérez Bonalde

Traze-me uma caixa
de negra nogueira,
e nela deixa-me
por fim repousar.

De um lado meus sonhos
de amor coloca,
do outro,
minhas ânsias
de glória imortal;

A lira em minhas mãos
piedosas deixa,
e abaixo da almofada
meu formoso ideal...

Agora a tampa
traze e crava,
crava-a, crava-a
com força tenaz,
que nada meu
possa-me roubar...

Depois, uma cova
bem funda cava,
tão funda, tão funda,
que até ela jamais
alcance o ruído
do mundo a chegar.

Baixa-me a seu fundo,
a terra junta,
Cubra-me... e vá
embora
Deixando-me em paz...

Nem flores, nem lápide,
Nem cruz,
nem funeral;
E logo... esqueça-me
Para todo o sempre!



E a versão original:

Por Siempre Jamás!
Juan Antonio Pérez Bonalde

Traedme una caja
de negro nogal,
y en ella dejadme
por fin
reposar.

De un lado mis sueños
de amor colocad, del otro,
mis ansias
de gloria inmortal;

la lira en mis manos
piadosos dejad,
y bajo la almohada
mi hermoso ideal...

Ahora la tapa
traed y clavad,
clavadla, clavadlac
on fuerza tenaz,
que nadie lo mío
me pueda robar...

Después, una fosa
bien honda cavad,
tan honda,
tan honda,
que hasta ella jamás
alcance el ruido
del mundo a llegar.

Bajadme a su fondo,
la tierra juntad,
cubridme...
y marchaos
dejándome en paz...

¡Ni flores, ni losa,
ni cruz, ni funeral;
y luego...olvidadme
por siempre jamás!.

Dove cè poesia

Mais um blog... Putz, mas para quê?

Vamos lá. A idéia de criar outro blog veio de uma obsessão minha de sistematizar tudo que faço. Percebi que o caos tomou dos outros blogs que fiz, por isso, resolvi criar um espaço dedicado somente à poesia.

Mas aí você pergunta: Porque o título é em italiano?, e eu respondo: e porque não?

Devido às suas vogais abertas, a língua italiana tem uma grande sonoridade para a poesia e para a música. Além disso, o título em italiano é, de certa forma, uma homenagem à poetas importantíssimos para a poesia mundial, como por exemplo, Dante e Petrarca.

Mas o fato do título ser em italiano não significa que aqui serão publicados somente poemas stilonovistas e seus compatriotas. Pretendo postar poesias de todas as nacionalidades, gêneros e sabores...

Até mais.


*Ah, já ia quase esquecendo, o título quer dizer "onde há poesia, ainda há vida".